"Sal"
Leticia Wierzchowski
Editora Intrínseca
239 páginas
#Livro Independente
[Texto Original]
- Sinopse -
Um farol enlouquecido deixa desamparados os homens do mar que circulam
em torno da pequena e isolada ilha de La Duiva, expondo-os, todas as noites, às
ameaças dos rochedos traiçoeiros. Sob sua luz vacilante, Cecília, matriarca da
família Godoy, reconstitui as cicatrizes do passado com linhas e agulhas. Em
dolorosa solidão, ela tece uma interminável tapeçaria em que entrelaça as sinas
de Ivan, seu marido, e de seus filhos ausentes, elegendo uma cor para cada um.
Muitas
gerações da família de origem espanhola zelaram pelo farol naquela ilhota
perdida no sul. Apesar da oposição de Doña, sua mãe, Ivan se apaixona por
Cecília. Os dois se casam e têm seis filhos — Lucas, Julieta, Orfeu, as gêmeas
Eva e Flora, e o temporão Tiberius —, que povoam a ilha com suas personalidades
marcantes e talentos misteriosos. Apaixonada pelos livros, a jovem Flora
descobre que possui o dom para a literatura e começa a escrever um romance. Tão
poderosas são suas palavras que certas cenas deixam o papel e transbordam para
a realidade.
O
manuscrito chega às mãos do inglês Julius Templeman, professor de Cambridge e
especialista em literatura latino-americana. Tomado pelo frescor e pela
vitalidade da criação da jovem, ele decide deixar a Europa e ir até La Duiva
para conhecer pessoalmente a autora. Sua chegada provoca mudanças profundas e
irreversíveis nos moradores da ilha e no próprio Julius. Ele desperta desejos,
desencadeia paixões e torna-se o vértice de um inusitado triângulo amoroso, cujas
consequências levam os filhos de Cecília a se espalharem pelo mundo em busca de
outros verões. Com uma linguagem poética, Leticia Wierzchowski dá voz e vida a
cada um dos integrantes da família Godoy, criando sua própria tapeçaria
delicada e surpreendente, enriquecida por múltiplos e divergentes pontos de
vista.
- A Primeira Impressão -
Enredo novo e criativo - não me surpreenderia se soubesse que a ideia veio de um sonho - num cenário tão rico e cuidadosamente construído. Melancólico demais, talvez, mas indiscutivelmente lindo.
Fica difícil, realmente, de trazer algum ponto negativo ou erro chamativo. Aí, vai depender de gosto.
- O Desenrolar da Estória -
Logo no início fui cativado pela construção brilhante e nada linear dos personagens e da trama. Cada personagem - representado por uma cor que os descreve muito bem - tem a chance de dar, em curtos capítulos, sua perspectiva.
Se tornou um dos meus favoritos de longe, mas preciso dizer que a experiência de leitura é deveras irregular. Na segunda parte, esta riqueza quase se perde, pois de vários passa apenas para um narrador que foca num romance que é demais. É como se a autora tivesse simplesmente descartado o ponto mais alto do livro. Deixado os outros personagens de lado com um overview muito superficial, pois tinham conflitos tão ricos e promessas tão grandes para o desfecho, e eram descritos com tanto cuidado, que eram o único rumo possível desta estória.
- Pontos Negativos e Holofotes -
Narrativa poética, inspirada e apaixonada que segue ao decorrer de toda a trama e te prende a cada página, sem exceção. Dá pra ver que a autora gosta mesmo do livro - pode parecer bobo de se dizer, mas não é. Coisa que dificulta na hora de emergir, errante e avoado, na madrugada do dia útil.
O simbolismo das cores só enriquece a beleza da escrita, a diversidade de temas e a facilidade certa na hora de aprofundá-los (Individualidade, glória, perdas. Rancor. Amor incondicional. Mágoas. Sal).
Mais uma prova de que a literatura brasileira tem nomes muito competentes.
Mais uma prova de que a literatura brasileira tem nomes muito competentes.
- O Trabalho da Editora -
Edição perfeita; parabéns aos designers por pegarem o clima do livro de
primeira. A capa e a diagramação estão deslumbrantes, e mais uma vez a
Intrínseca traz a folha amarela cheirosa que convence qualquer um a comprar.
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