domingo, 28 de outubro de 2012

O "Sucesso da Noite para o Dia" de Rick Riordan


Rick Riordan (autor das séries "Tres Navarre", "Percy Jackson e os Olimpianos", "As Crônicas dos Kane" e "Os Heróis do Olimpo"), "achou" um texto seu publicado em 22 de dezembro de 2007 no blog Myth and Mystery sobre como é difícil a jornada de um escritor iniciante e como ele conseguiu chegar onde está:

Em um evento recente, alguém me perguntou: como se sente tendo se tornado um sucesso do dia para a noite?

A questão me surpreendeu. Não tinha ideia de como responder, mas fiquei impressionado com quão drasticamente a percepção de alguém pode ser diferente da realidade.

Eu li sobre cantores de rock que se apresentam de graça em bares sujos por anos – pagando suas dívidas – antes de terem a grande opotunidade que atrai atenção nacional. De repente, o artista é um “sucesso da noite para o dia”. Ninguém ouviu falar dele antes, então mesmo que ele esteja lutando há anos, as pessoas simplesmente presumem que ele apareceu do nada, uma estrela do rock completamente formada, como Atenas surgindo da cabeça de Zeus.

 Se uma árvore cai na mata e ninguém ouve… Bem, a árvore não existe até que a notemos. Pensando no meu próprio “sucesso da noite para o dia”, me lembrei de uma das primeiras noite de autógrafos que já fiz, há 10 anos atrás, quando Tequila Vermelha foi lançado. Eu fui convidado pela Waldenbooks em um shopping em Concord, Califórnia. Eles prepararam uma mesa na frente da loja. Eles a reservaram por duas horas. Eu estava sentado lá, com meu casaco e gravata e via as pessoas passarem por mim, desviando como se eu fosse um vendedor de seguros. Eu dava direções de como chegar a Sears. Eu expliquei algumas vezes que não trabalhava na livraria e que não sabia onde ficava a seção de auto-ajuda. Eu assinei um guardanapo para uma dupla de adolescentes que pensavam que o título Tequila Vermelha parecia meio safado, porque tinha a ver com álcool. Não vendi nenhum livro.

Lembro-me do primeiro grupo de discussão de livros que fiz em Oakland. Duas pessoas apareceram. E, depois disso, uma sequência de eventos para minha série de mistério que parecia não ter fim: muitas cadeiras vazias, livrarias pedindo desculpas, sorrisos forçados. “Ah, não tem problema que ninguém apareceu!”, eu me dizia de novo e de novo. “É o estoque autografado e a publicidade que contam!” Bom… talvez. Mas eu ainda me sentia como tentando encher um reservatório com um pinga-gotas.

A maioria dos escritores tem histórias como esta. Nós odiamos a sala cheia de cadeiras vazias. Eu ainda tenho um medo arraigado de que ninguém aparecerá quando eu fizer um evento. Eu fico constantemente embasbacado quando entro numa livraria e realmente há pessoas me esperando.

Quando O Ladrão de Raios foi lançado, há dois anos atrás, eu era um caso perdido. Eu tinha a sensação de que este livro era minha grande chance. E também tinha a sensação de que esta grande chance estava indo embora. Minha família e eu fomos ao Bay Area para visitar nosso velho ponto de encontro e eu ficava procurando por sinais de que O Ladrão de Raios estava fazendo um grande sucesso, recebendo publicidade, ganhando destaque nas vitrines. Mas sem sorte. Nós paramos em algumas livrarias para assinar os estoques. Não havia estoque. Eu fiz um evento em uma loja (infelizmente, no dia seguinte ao último lançamento de Harry Potter) e o único comentário do vendedor de olhos turvos sobre O Ladrão de Raios foi “Ah, ele não está tendo muita cobertura, né?”. Uma família apareceu para me ouvir falar sobre meu livro. Dois pais. Uma criança. Eu voltei ao meu quarto de hotel e me enrolei em posição fetal, pensando “Bom, é isso. Ninguém gosta de Percy Jackson.” Minha esposa ainda me troça sobre esta viagem. Ela fala “Se eu pudesse voltar no tempo e te mostrar o que iria acontecer”. Ainda assim, naquele tempo, eu me senti desesperançoso. Foram mais outros seis meses de constantes viagens e visitas a escolas antes que  O Ladrão de Raios atraísse qualquer atenção. A lista Bluebonnet da Associação de Bibliotecas do Texas foi a primeira grande chance da série. Daí em diante começou a aparecer em outras listas do estado, e a fofoca começou a se disseminar. Mesmo depois disso, as coisas ocorreram devagar. Eu me lembro quando Mar de Monstros foi lançado, um ano depois, eu ainda tinha conversas ansiosas com meu editor e agente, imaginando o que poderia fazer para aumentar as vendas. Estava faltando algo? Eu estava errado em pensar que a série se conectaria com as crianças? Levou quase dois anos antes que as coisas realmente mudassem.

O que fez a diferença? Difícil dizer, mas foi uma combinação de fatores. O mais importante foi o boca-a-boca. A série cresceu do chão, com uma criança recomendando o livro aos seus amigos. Livreiros, professores e bibliotecários começaram a falar. Eu viajei e visitei escolas incansavelmente. O Mar de Monstros apareceu no vídeo do Clube do Livro da Scholastic, o que não é pouca coisa. A lista de leituras do estado começou a engrenar. E de repente, logo antes do lançamento de A Maldição do Titã, a série pareceu atingir a massa e as vendas explodiram.

Mas olha, demorou muito tempo. Eu me sentia subindo um poço com unhas e dentes. Estou reclamando? Claro que não. Apenas estou maravilhado com quão incerto eu me senti por tanto tempo. Nada sobre o sucesso da série pareceu inevitável. Mesmo depois da “maior oportunidade” que é ser publicado pela primeira vez, foram mais oito anos de escrita enquanto trabalhava como professor em tempo integral antes de poder me dedicar totalmente à minha escrita, e mais dois anos antes que eu pudesse sentir que ia ser bem sucedido. E, mesmo assim, quem sabe o que vai acontecer em seis meses ou um ano daqui? Não há garantias.

Como em qualquer trabalho altamente reconhecido, escrever é julgado pelas exceções na área, e não pela média. Quando o público em geral ouve a palavra “autor”, pensa em J.K. Rowling, Stephen King, James Patterson. Quando ouvem “jogador de basquete”, pensam em Michael Jordan, Shaquille O’Neal, Tim Duncan. É fácil pensar que todos os autores são como J.K. Rowling e que todo jogador de basquete é como Michael Jordan. Na verdade, 99% dos autores nunca experimentaram e nunca experimentarão qualquer coisa como o sucesso do 1% que está no topo. A maioria dos autores, ainda que consigam ser publicados, nunca abandonam seus empregos. A maioria nunca vai entrar numa lista de mais vendidos, nem ter seus livros transformados em filmes, assim como a maioria dos jogadores de basquete nunca jogarão na NBA, e até aquele sortudos que conseguem nunca terão o dinheiro de uma superestrela. Julgar outros livros pela série Harry Potter é como dizer “bem, aquele cara ganhou a loteria Powerball, então todo mundo que jogar neste loteria deve ganhá-la”. Isso não quer dizer que não possamos sonhar. Se uma criança quiser se tornar um jogador profissional, incrível. Se um escritor quiser se tornar o próximo ____ (complete com o nome do autor), ótimo, mas é bom perseguir esta ambição com os olhos bem abertos. Provavelmente vai ser uma longa e árdua jornada sem qualquer garantia de que o sucesso virá. As exceções são raras, motivo pelo qual elas ganham tanta atenção. Para todo autor reconhecido que você possa imaginar, há mais mil lutando no purgatório conhecido como “a lista do meio”, e dezenas de milhares que ainda estão tentando ser publicados. E mesmo estes autores famosos também devem ter lutado por ainda mais tempo e mais ferozmente do que você imagina para chegarem onde estão.

Não estou dizendo isso de mau-humor, para regojizar ou choramingar. Apenas estou tentando dar um pouco de contexto, de forma que, quando eu digo quão grato estou pelo sucesso dos livros e quão sortudo me sinto, você irá entender de onde isso vem. As pessoas me perguntam o que eu acho de ganhar tanta atenção e como isso mudou minha vida. Realmente não mudou nada. Ainda sou o mesmo cara que se sentou em Waldenbooks por duas horas, dando indicações e sorrindo vagamente a uma onda de compradores que estavam tentando me ignorar. Ainda sou o mesmo cara que olhava para inúmeras salas cheias de cadeiras vazias em incontáveis livrarias durante 10 anos. Ainda fico impressionado toda vez que vejo uma multidão num evento. Eu não tomo nada como certo.

Mas você realmente não pode explicar algo assim no meio de um evento. É difícil demais colocar em palavras sem que as pessoas pensem que estou me gabando ou reclamando. Então, na próxima vez que alguém me perguntar “como se sente tendo se tornado um sucesso da noite para o dia”, pretendo sorrir educadamente e dizer: “Me sinto ótimo”.

Créditos da Tradução:
Percy Jackson BR 

Post Original:
Myth & Mystery 

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